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Tributo a Cora Coralina 08 de março de 2008

Cora estava parada diante do portão, aguardando que ele fosse por mim aberto.
Emudecida, sorri, dando-lhe as boas vindas. Em retribuição também ela sorriu. Com esse ato acentuando os caminhos e veredas e vielas impressos em sua face, a revelar a dignidade da sua alma. Sua nobreza.
A Onda veio. Inundando meu corpo e alma. A ternura. Essa emoção afetiva que endereçamos às pessoas queridas. Especiais.
Isto estaria se dando pela sua parecença com minha avó? Fiz um gesto convidando-a a entrar.
De forma alguma se fez de rogada. Entrou. Apontei-lhe a poltrona. Sentou-se em plena confiança.
Ficamos de frente uma para a outra. Nos observando. Analisando.
Nada de estranhezas! Era mais um processo de reconhecimento. "O que em mim fazia parte dela?" E o "que" dela estava implícito em mim? Seria o fato de sermos mulheres simples? Ligadas a terra, ou seria nossas erranças? A vida meio nômade. Nossa ligação com o sagrado feminino? Ou o que nos unia era o laço de guerreiras? De mulheres fortes, destemidas e que por assim o serem, escandalizam a sociedade quando lutam contra as normas, regras e leis de um sistema arcaico; Que rompem barreiras, ouvindo o estrondo dos destroços jogando por terra os "tabus", conceitos e pré-conceitos, afim de, libertar nossos direitos humanos de ser, agir e pensar? Mulheres livres! Mulheres inteiras. Mulheres que não aceitam cabrestos. Ou nossa parecença estava na falta de altura? Mulheres miúdas. Pequenas. Ou será que era pelo amor à vida. Ou ao gosto pelos versos, rimas, prosas e poesias?
"O que há nesta mulher que tanto me encanta, emociona e fascina? Porque seus olhos falam tão diretamente aos meus"?

Inesperadamente, as palavras, já não tão companheiras, decidiram que era hora de dar uma volta. No parque. Era à hora do entardecer, e as palavras adoram contemplar o pôr do Sol. Captar a essência desse período em que tudo na natureza se mantém em suspenso, envolto pelo manto da grande Mãe. Deixaram-me só. Elas, as palavras. Desamparada. Munida apenas de minha santa nulidade, a fazer sala para tão ilustre visita.
Que dizer a ela?
- Fique à vontade, a casa é sua! - para que? Se ela não fosse querida, não teria permitido que entrasse.
O que oferecer a ela? - talvez o doce de goiaba ainda exalando seu cheiro de recém feito?
Talvez ela o apreciasse se fosse servido junto com uma fatia de requeijão. Poderia dizer a ela que aos 53 anos, escalei a goiabeira, buscando os frutos mais belos. - Talvez por serem mais belos, resolveram florescer nos galhos mais altos. - Colhi os frutos, descasquei, retirei as sementes, lavei as polpas e as levei ao fogo brando. - "não no tacho de cobre. Infelizmente não o tenho. Pretendo adquirir um". Fiz o doce na panela de barro, e que durante o cozimento acrescentei pedaços de canela, cravo da índia, anis estrelado e leite de coco. O leite de coco foi por minha conta e risco. Próprios. Deveria dizer-lhe que enquanto mexia a panela com a velha colher de pau, acrescentei o maior dos ingredientes? A gratidão e o Amor que sinto pelos seres e pela Terra. Ou será que deveria lhe oferecer um copo do refrescante suco de limão? Afinal a tarde está tão abafada!
Permanecemos caladas. Apenas nos observando. Sentindo o afeto nos unindo. A parecença de nossas vidas. Os caminhos que nos aproximaram. A semelhança das almas, e subitamente compreendi que não era a ela que eu deveria dizer alguma coisa, mas sim à Deusa que habita no brilho de seus olhos. Nas rugas de seu rosto. No sorriso de sua boca. Compreendi que Cora reverenciava a Mãe de todas nós, e que essa homenagem, primaria, simplória, tão necessitada de um experiente lapidador, deveria ser entregue a todas as mulheres e dizer-lhes que jamais via a face da Deusa tão nítida quanto em suas palavras. Aí sim, homenageando todas as mulheres, filhas da deusa, Cora Coralina estaria sendo homenageada por todas as flores e risos e pedras e lágrimas dos caminhos.
Cora essa Jovem e Senhora e Anciã. Digna representante da grande Mãe. Gaia.

“- A gleba me transfigura, sou semente, sou pedra.
Pela minha voz cantam todos os pássaros do mundo.
Sou a cigarra cantadeira de um longo estio que se chama Vida.
Sou formiga incansável, diligente, compondo seus abastos.
Em mim a planta renasce e floresce, sementeia e sobrevive.
Sou a espiga e o grão fecundo que retornam à terra.
Minha pena é a enchada do plantador, é o arado que vai sulcando para a colheita das gerações.
Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira.
Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios.
Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra”.
Cora Coralina.

Abençoada seja senhora, por ter me permitido conhecer um pouco da sua vida e suas palavras. (através dos livros).

Cora sorriu e foi embora, levando consigo um pote com o doce de goiaba, após ter provado da limonada.
Possam todas as mulheres honrarem seus corpos, honrando o corpo de Gaia. Mãe Terra.

 
   
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