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Alicia

Alícia está, sozinha, no quarto de dormir: farta-se de inquietações.
Todos dormem. Unicamente ela faz vigília insólita por conta das confabulações com seus botões.
Descobre-se diferente. Não que seja púbere. Mas, em outros momentos, estes conflitos não tinham estas perspectivas. Desta feita, tem força de temporal. Borrasca que aflige, apoquenta, amofina, angustia..., deu-se conta que tem desejo por sua melhor amiga; deu-se conta que seu ficante, com todas as mãos bobas e beijos impudicos, não chegou a milímetros de despertar sua libido, tanto quanto o leve roçar de pele com pele na sua melhor amiga. Um contato fortuito quando tomavam banho no vestiário após o jogo de vôlei.
Terrificante: seus seios intumesceram, a vagina umedeceu e sentiu arrepios no corpo inteiro. Dissimula, afasta-se e foge para o reservado do sanitário. Toca-se: seios, ventre, vulva, clitóris..., morde os lábios para conter o grunhido. Vontade louca de enfiar os dedos na vagina, mas se contém!
Remói, solitariamente, por todo o dia, sua desventura. À noite, tal desdita lhe vexa e angustia: abaliza sua descoberta; chora por sua desventura.
Impossível aceitar-se assim. Membro de uma família conservadora, tem pai dominador, quadrado, ultrapassado e castrador, pela sua perspectiva; mãe submissa, que tudo acata para não contraditar o esposo. Dependente em todos os aspectos: financeiro e psicológico.
Sua agitação cresce. Levanta-se, despe-se e, em frente ao espelho do toucador, examina seu corpo com minudência: seios, busto, colo, barriga, coxas, púbis..., vira-se e analisa as costas e as nádegas..., dada errado. Não satisfeita, então, senta-se na beirada da cama, arreganha as pernas e examina a vagina. Normal. Normalíssima! Fêmea, na mais completa semântica.
Lábios vaginais intumescidos; pensamentos luxuriantes; sumos umedecendo a xereca! ... Alícia desliza com naturalidade os dedos pelo púbis, atingindo o clitóris com os dedos indicador e médio, onde massageia delicadamente. Isso lhe provoca uma onda de choques pelo corpo; pensa em Jamile, sua amiga; sente-se beijando seus lábios; imagina ser, não sua, a xoxota que acaricia. Resvala os dedos para os grandes lábios vaginais, deixando a palma da mão sobre a vulta. O pequenino grão reage ao esfregar delicado. Espasmos suaves; arrepios; gemidos refreados... Fonte de prazer incontido: aumenta suas contrações à medida que mais esfrega a palma da mão na vulva. Tem como alvo o clitóris. Pinguelinho, pouco maior que um grão de ervilha, que intumescido recebe de volta os dedos indicador e médio, e entre eles, ganha um esfregar contínuo..., lascivo..., rítmico..., que propicia um gozar intenso.
Não descontinua o esfregar carinhoso: outros gozos se seguem.
Morde os lábios para conter os gemidos; fecha as pernas para conter os sucos escorrendo; fecha os olhos e lhe vem o rosto orgástico de Jamile: sua amiga; gatilho do seu despertar concupiscente.
Lhe vem ao lembrar o roçar da sua pele com a pele de Jamile. O toque, o cheiro, os arrepios, o desejo aflorado, a vontade de abraçar de esfregar corpo com corpo, de partilhar luxúria com Jamile..., atinge Alícia com o vigor de um açoite. É desejo. É tesão. É um despertar abrupto. É desesperador!
Chora quando no seu enésimo espasmo. Convulsiona embaralhando gozos com aflição. Seu tesão tem tal intensidade que logo aos toques iniciais atingiu os primeiros orgasmos. Outros se seguem..., outros mais..., perde-se nas contas. Amolece o corpo e desliza com parcimônia pelo leito. Acomoda a cabeça no travesseiro e enfia uma almofada entre as pernas. Aperta fortemente com as coxas. Comprime contra a vagina, ainda intumescida.
Leve e convulso soluçar. Desce a mão pela barriga até a xereca e percebe-se vazando néctares. Enfia os dedos médio e indicador no canal, comprimindo suavemente a púbis. Sente-se com as entranhas inundada de sucos que escorrem pelos dedos e mancham o lençol; umedece o travesseiro entre pernas.
Não é sua primeira masturbação. Não é virgem. Houve contatos sexuais, com penetração vaginal, mas, nunca, em momento algum teve orgasmo tão intenso. Nunca, em nenhum momento seu desejo foi tão enlevado. Tão arrebatador. Nunca, em outras masturbações havia pensado em Jamile.
Esta foi a primeira vez que pensou em outra mulher de maneira voluptuosa. Normal admirar a beleza de outra mulher; invejar o corpo de outra mulher; cobiçar os encantos de outra mulher. Desta feita, pensa em uma mulher e lhe aflora tal desejo: tesão!
Após infrutíferas tentativas de conciliar o sono, mesmo satisfeita parcialmente no seu desejo carnal, resolve levantar-se.
O que fazer?!
Diazepam?
Leite morno?
Chá de camomila?
Por certo, isso tudo será de pouca valia, mesmo tomando todos de uma só vez. Sua inquietação é mais forte. Sua angustia se sobrepõe a qualquer paliativo. É ajuizamento incomum. É um martelar contínuo que lhe arrebenta os pilares nos quais seus modelos de fêmea se instituíram.
Senta-se na beirada da cama, mais uma vez, e principia o abalizar: conversar com quem? Quem será de inteira confiança para tal particularidade! Não encontra alento. Suas amizades todas, amigas e amigos, não são confiáveis para tais confidências. Jamile, que se mostra mais fiável, é fonte das suas excitações.
Uma ideia lhe surge à mente. Pode ser uma saída. Mas, será outra particularidade sua.
Busca a cadeira que repousa em um canto do quarto, volta a sentar na beirada da cama e a coloca na sua frente. Depois de leve titubeio, inicia uma conversação consigo mesma. Imagina-se com outra eu, oposta, sentada à sua frente. Fala em tom suplicante, a meia voz, no intento de não acordar os familiares, querendo, talvez, esconder de si mesma tal insanidade: falar consigo mesma sobre a própria sexualidade.
– Não tenho a quem confidenciar meus anseios! Resta, de consolo, você, que sou eu mesma. O que está acontecendo comigo?!
Levanta-se, após a lamuriosa fala, senta-se na cadeira e assume a postura de interlocução. Ar de inquisidora; fala de reprovação e consolação; feição sacana; seu lado nuvioso:
– Não entendi bem seus questionamentos.
Volta para a beirada da cama e responde a si mesma:
– Quero sua ajuda para me entender. Eu nunca tive curiosidade..., nunca pensei nada disso..., minha vida é tão comportadinha!
Volta para a cadeira e se segue, como inquisidora e ré, com alternância: cadeira, beirada da cama.
– Agora você tem curiosidade! Quer que diga o quê? Os anseios estão evidentes..., você é lésbica! Redondamente lésbica. No máximo..., bissexual. Isso é ser descomportada?!
– Quero que me ajude a entender isso!
Riso desconcertante que mais é um esgar de desesperação. Volta à cadeira, em postura inquisitiva:
– Entender o quê?! Se é que tem algo para entender..., você tem desejo por sua amiga, e é tesão. Não o simples amor entre amigos..., um singelo apego por alguém..., é tesão do brabo. É vontade de beijar, de acarinhar, de chupar, ser chupada, de esfregar boceta com boceta..., transar, sendo mais completiva.
Risada cínica, com trejeitos de escárnio. Desacomoda-se da cadeira e escorre lerdosamente para a beirada da cama.
– Mas isso não pode acontecer comigo! Eu me mato.
Alternam-se as falas e com as arengas a postura. São duas mulheres em uma única. Assemelha-se a bipolaridade, tal a diferenciação entre os dois falares. Uma cínica com frases talhantes, a outra depressiva e incontida na sua pequenez. Uma angustiada, a outra sacana:
– O que não pode acontecer? Já aconteceu. Você quer se matar..., vá em frente!
– Tenho como opção a vida religiosa. Me trancar em um convento, pra fugir disso.
– E vai adiantar? Mais cedo mais tarde acaba se esfregando com outra freira!
– Não seja tão despudorada!
– Despudorada?! Desavergonhada é você que não se contém em anseios. Que se inquieta por sentir tesão por outra mulher. E essa mulher é sua melhor amiga. Vai perguntar pra ela, se topa uma foda?! Putariazinha entre amigas..., só! Sem compromisso de envolvimento maior.
– Você não está me ajudando em nada.
Levanta-se da beirada da cama, em completo torpor. Letárgica e esmorecida. Senta-se na cadeira e assume força inquisidora:
– Você quer ajuda!? Não! Você quer sexo. Sexo com outra mulher. Beijo, chupadas, esfregação, masturbação..., sinto, mas não posso lhe satisfazer. Acabamos de fazer isso e você continua excitada. Continua cheia de desejo! De tesão por Jamile.
Volta para a cama com letargo e alquebramento:
– Me ajude a compreender. Me ajude a superar. Me dê alento! É muito difícil ostentar tal condição. É impossível. Não serei aceita por ninguém: minha família, meus amigos..., minhas amigas vão fugir de mim, como se fosse anomalia. Como se fosse contagioso..., vão me execrar!
– Em outros momentos, pensou o mesmo de outras mulheres que se admitiram lésbicas! Não foi? Eram anômalas. Eram desagradáveis. Contagioso..., lhe parecia doença.
– Ainda me parece doença. Talvez um psicólogo!
– Ou uma sessão de descarrego. Pra tirar o coisa ruim que está em você! ...
– Talvez! Quem sabe se eu me converter para uma dessas religiões..., que tira satanás do corpo!
O embate vindo da dualidade de Alícia, torna-se mais acirrado e tem, a cada faceta, desdobramentos que se assemelham a duas pessoas, em verdade. Mais e mais tornam-se adversas, com pronunciado antagonismo:
– Acorda Alícia! Nem dormindo você está. Já se examinou em frente ao espelho e continua sendo mulher. Tem seios de mulher, tem xereca como toda mulher, tem bunda redondinha como toda mulher..., acha que em breve vai lhe crescer um pênis?
– Ai! ..., não fala assim que me lembro de Jamile. Dos seios de Jamile, da pele de Jamile, da xereca de Jamile, da bundinha empinada de Jamile...
– Deprava. Já está de grelo duro. É assim que quer deixar de assumir sua condição de lésbica?
– E se for só uma atração passageira? Um leve sintoma de uma anomalia que não existe?
– Anomalia?! Comece a ter mais respeito por si mesma. Acha que isso é passageiro? Leva tanto tempo pra desencadear esses conflitos e acha que é passageiro? Quantas vezes você viu suas amigas peladas e sentiu atração? Muitas..., muitas! Disfarçava como sendo só admiração pela beleza delas. Achava-se apenas uma apreciadora fugaz. Sente-se agora como? Fugaz..., só fugaz? Não tem mais outra explicação para isso? Esse ar virginal não lhe cabe. Você é lasciva.
– E, se sou bissexual e deixo de atração por mulher?
– Pode sim, aproveitar as duas vertentes: transar com homem quando lhe convier, transar com mulher quando a vontade bater e, encontrar uma parceira.
– Você não está ajudando em nada!
– Você quer ajuda mesmo ou quer uma noite de amor com Jamile!?
– Não me deixe mais atarantada do que já estou.
– Não me procure com lamúrias que não sou muro de lamentações!
– Quero só dormir. Nem mesmo sei se quero acordar. É um pesadelo.
– Vai continuar escondendo sua sexualidade?
– Sim! Tenho que continuar a esconder minha opção sexual. Como posso sentar na mesa do almoço e dizer para todos, em alto e bom som: sou lésbica. Tenho desejo por mulher, mais que por homens. Esses, só de quando em vez e, ainda assim, por vezes não consigo me satisfazer. Tenho que me masturbar, depois de ser penetrada por um pênis, pra satisfazer minha necessidade.
– Não! Você pode começar, devagarinho, procurando sua independência financeira e se libertar do jugo de seus pais.
– Isso vai levar tempo!
– Sim! Vai levar tempo, mas você terá autonomia. Para não ficar a zero, vá dando umas esfregadinhas em Jamile, assim, casualmente, pra ver se ela se toca, e quem sabe!...
– Jamile, transando comigo?! ..., impossível!
– Com jeitinho, quem sabe? De repente ela também já teve vontade. E não vai fazer mal algum. Pelo menos tente.
– Você quer dizer: eu começo a me arranjar e, sem escancaro, me assumir; provoco Jamile, conduzindo para uma transa comigo; aceito numa boa o fato de ser homossexual...
– Você deu o primeiro passo! Já se admite com a perspectiva de bissexualidade. Todo o resto será mais fácil. Não é a única. Outras muitas mulheres assumiram-se lésbicas. Tempestade em copo d’água é o que está fazendo. Não é a primeira e não será a última!
– Isso não está meio pobre..., insossa essa sua discursiva?
– Tão pobre quanto seu desespero. Apenas descobriu-se diferente. O mundo acabou? É o Juízo final? Vai ter peninha dos machos que não irão copular com você? Pobreza por pobreza, seu aforismo é paupérrimo.
– Não vou mais procurar você pra pedir conselhos!
– Mas vai me procurar, quando tiver vontade de fazer essa coisinha solitária, mas tão gostosa? ... Vai me procurar pra se masturbar, sim! Sou mais despudorada. Mais sacana.
– Você me confunde mais!
– Também goza mais quando estou assim pertinho.
– Você sou eu! Eu sou você..., como pode falar desta maneira?
– Porque sou seu lado desavergonhado. A parte carnal, impudica, lúbrica! ... Quero mais. Estou sentindo arrepios..., quero me tocar! ..., quero gozar com três dedos enfiados...
– Estou com sono!
– Só um pouquinho. Depois me aquieto e podemos dormir.
Ainda na cadeira Alícia inicia um acariciar suave, de olhos fechados, lábios entreabertos como buscando um beijo, ao tempo que vagarosamente abre as pernas.
Os dedos contornam os bicos dos seis intumescidos. Sente-se lasciva. Leva a mão direita até os lábios e umedece a ponta dos dedos com saliva. Volta para o seio e faz movimentos circulares no mamilo. A mão esquerda aperta e afrouxa com suavidade a mama em ritmo regular. Deita-se, de costas, e continua as carícias, vez por outra voltado a salivar as pontas dos dedos.
Leves descargas elétricas percorrem o corpo. O tesão aumenta; o pensamento embota com imagens esmaecidas de Jamile: seios, coxas, nádegas, barriga, virilhas, vagina...
Gemidos leves e muitos outros sons, sem sentido algum, botam da garganta. As mãos deslizam suavemente, sem pressa alguma, pelo corpo, cingindo o abdômen. Levanta as pernas e apoia os pés na beirada da cama. Dedos buscam, entre as coxas, pontos mais sensíveis: pequenos lábios; grandes lábios; clitóris..., chegam ao canal vaginal os dedos indicador e médio da mão direita. Resistem a não entrarem, ficam contornando a região da vulva. O indicador da mão esquerda massageia o grelo. Timidamente a mão direta desce e permite a penetração do indicador e médio. Leves contrações se apresentam.
O corpo sente desconforto devido a posição. A cadeira não tem ponto de apoio. Atira-se na cama de bruços, apertando a vulva com a mão direita. Não contém a lascívia, vira-se e deita-se de costas, com as pernas abertas, e castiga a grutinha vaginal com os dedos indicador e médio.
Levanta o busto, senta-se na beirada da cama, separa mais as coxas apoiando o calcanhar na cama e perde-se em penetrações com os dedos da mão direta na xereca e esfregação dos dedos da mão esquerda no clitóris: descendo, subindo, fazendo círculos..., o primeiro gozo se aproxima. Descarga leve de um orgasmo ainda contido pelo sentimento de culpa.
Logo depois, descarga mais forte faz tremer o corpo por inteiro. Gozo mais intenso! Néctares umedecendo o lençol. Segue-se outros espasmos com maior intensidade. Vontade de gritar, contida pelo desespero de não ser descoberta nas suas práticas libidinais.
Não acredita. A abundância de orgasmos é única. Nunca, em momento algum, em masturbação ou com parceiro masculino, houve tantos orgasmos e com tanta intensidade.
O corpo amolece, as mãos reduzem a intensidade da carícia e, vez por outra, apenas fazem leves compressões. Os espasmos são mais esparsos, mas não menos deleitosos.
O êxtase cede ao cansaço. Vagarosamente, sem preocupar-se com a mancha de gozo no lençol, muito menos com o amarfanhado do corpo, arrasta-se para o travesseiro e, ainda comprimindo com suavidade a vulva como querendo conter o que dela escorre, acomoda-se: pernas encolhidas, quase em posição fetal. O ar está impregnado de luxúria. O viço do prazer carnal arrefece.
Dorme sem se aperceber da hora. Descanso merecido. Não há sonhos e os pensamentos todos estão a repousar. Um tempo para recobrar do esmorecer dos gozos. Uma pausa laureando a nova etapa da sua vida. O deslembrar das suas aflitivas ponderações.

Alícia acorda com o bater na porta e a voz da sua mãe:
– Alícia! Já passa de dez horas..., não vai trabalhar, não?!
– Não! Estou com muita dor de cabeça. Quero dormir mais. Ligue, por favor, e dê uma desculpa. Vou pedir ao pai de Jamile um atestado.
Seu falar é torturante. As palavras saem com lerdeza apática. Apenas um leve choque quando soa, dos seus lábios, o nome Jamile! Endireita-se, corrigindo o completo desalinho do seu dormir e perde-se em pensamentos leves que não afligem, que não angustiam, que não amofina. Apenas entorpece. Dorme..., mais uma vez dorme. Agora tem sonhos: impublicáveis!

Alícia acorda, se espreguiça e descobre-se suja. Imunda, no seu ajuizar. Cheira a lascívia. Lençol e fronha manchados de seus néctares.
Pula da cama e corre para o banheiro levando a fardagem do leito para o cesto de roupa suja. Sorte que seu quarto é suíte. Seu banheiro é exclusivo. A privacidade é maior.
Atira-se ao chuveiro e deixa que a água morna deslize pelo corpo: olhos fechados; pensamentos ronceiros; ideias tomando forma no ajuizar..., Jamile não lhe sai da cabeça.
Entrega-se a um ensaboar compassado, com exame meticuloso de todas as partes do corpo. As mãos apalpam os seios buscando acariciar os bicos intumescidos, deslizam pela barriga até as coxas, deixa cair o sabonete e continua o exame cego em apalpo. Nádegas, virilhas, vulva, clitóris, vagina..., um esfregar suave em cada parte do corpo, detendo-se unicamente nas partes mais sensíveis e prazerosas. Nunca sentiu tanta vontade de se masturbar. Parece inesgotável o seu desejo. Mas não quer atingir orgasmos. Apenas se tocar, se descobrir e aumentar sua excitação. Sabe que vai ficar só, em casa, por todo o dia. Tem muito tempo para exercitar a libido.
Terminado o longo e prazeroso banho, o enxugar é não menos lúbrico. A toalha lhe serve como outro corpo e as carícias são voluptuosas.
Sabe-se mulher. Feminina em todos os aspectos. Nada muda no seu corpo. Suas opções sexuais em nada interferem na condição de fêmea. Também não queria um pênis. Não inveja os homens. Sente-se, sim, como fêmea com tesão por outra fêmea.
Satisfeita do meticuloso exame do próprio corpo, descobre-se com fome. Veste-se com calcinha minúscula e uma camiseta de malha que transparece o contorno dos seios. Gosta de estar assim quando sozinha em casa. Até mesmo quando está apenas com a mãe permite-se tal ousadia. O pai é que implica.
Uma leve refeição: estrogonofe requentado no micro-ondas; pão de centeio em lugar de arroz; suco de goiaba..., tudo com a lentidão de quem sabe ter que abalizar suas conversas com Jamile.
Aninha-se no canto do sofá, busca o telefone celular e liga para sua melhor amiga:
– Oi!
– (pausa para ouvir Jamile)
– Está ocupada, agora?!
Continua sua fala, após a pausa para ouvir a amiga do outro lado da ligação:
– Acordei agora. Insônia.
– (pausa para ouvir Jamile)
– Não! Não fui trabalhar. É estágio no escritório do meu pai...
– (pausa para ouvir Jamile)
– Claro, Jamile. Por que tenho que ficar preocupada? Se fosse para o trabalho iria dormir sentada.
Risos, da parte dela e, possivelmente, de Jamile no outro ponto da ligação.
Aguarda a fala da amiga e, libidinosamente, umedece a ponta do indicador da mão direita, com leve pressão, como chupando sumo de morango. Um sorriso debochado lhe assoma os lábios:
– Você vai fazer o que, hoje à noite, Jamile? Por que não vem dormir aqui, comigo?!
Pausa para as explicitações de Jamile:
– Sair com seu namorado?! Motel?! Seu namorado é muito fraco na cama.
– (pausa para ouvir Jamile)
– Como eu sei? Esquece que eu peguei ele antes de você?!
Pela resposta de Jamile, arrisca uma fala mais picante:
– Garanto que eu faço você gozar, mais que ele! Duvida?
– (pausa para ouvir Jamile)
– Como? Ah..., você diz, o que quer que eu faça, e eu faço melhor que ele.
– (pausa para ouvir Jamile)
– Amiga, ele é aquele que goza e dorme! Estou errada?!
Aguarda a explicação de Jamile detalhando sua afirmativa:
– Meu amor, ele fez isso muitas vezes comigo. Esperava que dormisse e me masturbava muito. Até quando não aguentei e me masturbei com ele acordado e esfreguei meu gozo na cara dele. Foi aí que terminamos.
Enquanto pausa para ouvir a resposta de Jamile, indicador e médio, umedecidos escorregam para a vulva, passam pelo elástico da calcinha e invadem a grutinha já umedecida. Lambuza os dedos em seu mel e os devolve para a boca, e sorve com luxúria.
– Você dorme na minha cama e eu no colchonete. Podemos conversar, a noite toda. Lhe conto umas histórias de putaria, você fica excitada e vai para o banheiro se masturbar. Se quiser, faz na minha frente..., é só pra que você venha me fazer companhia. Até sou capaz de chupar sua xereca.
A gargalhada desregrada sai, possivelmente, pela resposta de Jamile que deve ter tomado um susto sem tamanho.
Alícia começa a exercitar seu outro lado. O debochado, o devasso, o impudico..., sua outra metade. Sabe que Jamile está intrigada. Não é hábito falar com tanta libertinagem. Mas, conhecedora da amiga, sabe que ela está gostando de falar putaria. Quem sabe se vai gostar da nova Alícia!?
A mão direita volta para a vagina. Contém o gemido que lhe vem aos lábios. Esfrega os dedos no clitóris enquanto ouve a amiga falar.
Dá-se conta que perdeu o fio da conversa, quando ouve, do outro lado da conexão, a amiga se inquietar:
– Tô ouvindo! ... Tô ouvindo!
Volta à realidade. Responde secamente. Não gozou, ainda. Mas os deleites deste breve momento foram intensos.
Volta a umedecer os dedos e os faz deslizar até o umbigo, em movimentos circulares, indo para a região genital, vez por outra. A calcinha tem manchas de gozos. Imagina esfregando-se em Jamile: pele com pele; boceta com boceta; coxas com coxas...; beijos ardentes...
A conversa não tem novos rumos. Os ajuizamentos são os mais lascivos possíveis. As ponderações íntimas em nada perturbam a conversa usual: futilidades. Apenas a voz tem mais carinho: – Será que ela percebeu?! Impossível. Está parecendo voz de sono. É a voz preguicenta, só.
As horas se passam, a creditação do celular se esvai..., o tesão toma novo rumo. Serão noites insones, possivelmente, as muitas que virão! ..., mas, tem seu outro lado e esse serve de consolo quando quiser conversar consigo mesma..., e esse é muito carinhoso além de ser muito sacana.
Não tem volta o seu optar!

 
   
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