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Vivendo & escrevendo - II

ESCANCARO AS FOLHAS DA JANELA para o sol entrar. Arrumo a minha cama, dobro o lençol e o penduro no varal ao lado de outras roupas. Ontem dei um passeio por trás do mercado, na Praça do Bacurizeiro onde Ademir preparava o jantar numa lata grande enegrecida pela fumaça da improvisada fogueira no chão próximo ao muro. A companheira Sena sentada calada numa das raízes da Barricudeira, um rapaz sentado num engradado fumava desesperadamente um cachimbo de crack. Contornando pela rua l8 bem no canto com avenida, encontrei meio-escondido o solitário Jack, um rapaz moreno com feições de índio peruano, cabelos lisos, mediano e que gosta também de Dostoievski, que sempre lhe empresto. Conversamos quase por uma hora assuntos variados de Hitler, Balzac, Hemingway (gostou de "Por que Os Sinos Dobram", mas não de "O Velho e o Mar" - Contou-me que está lendo Gilberto Freire, o sociólogo pernambucano, autor do antológico "Casa Grande e Senzala"). Pela manhã trouxe os livros que lhe emprestei há alguns meses atrás e não conseguiu ler "Ilusões Perdidas” e outros ambos do grande Balzac. Mostrei-lhe o meu humilde quarto, o meu canto, os meus livros - emprestei-lhe "As Aventuras de Nick Adams" de Hemingway e "O Grande Gatsby" do mestre Fitzgerald. Cozinhei uns ovos com caldo e verdura, que almocei e guardei o resto para jantar e comecei a reler "Ilusões Perdida", estava com saudade de Pai Sechard, e seu filho David e o belo poeta Luciano de Rubempré e a bela Senhora de Bargeton - de Angouleme - leio dois monstro sagrados da sagrada literatura o francês Balzac e o russo Dostoievski. Assisti uma comédia de l956 - "Nunca fui santa" com a exuberante Marilyn Monroe.



MANHÃ ENSOLARADA na casa estranha sem a presença atuante da Sra. Vince. Eu sentado no sofá grande o único na exígua sala de estar, além das três cadeiras de plástico; duas brancas e uma vermelha encostado ao lado da porta e a de macarrão de balanço. Uma estante de aglomerado com a televisão no meio e nas laterais com as portinholas de vidro escurecido onde repousa alguns livros, de um lado os grandes clássicos e do outro os em francês.
Na Unidade Mista do Bacanga, o Guarda impassível em pé no canto do corredor e as funcionarias em jalecos brancos transitando de um lado para outro. Não consigo escrever como gostaria, as imagens misturam-se e a linguagem desaparece. Ontem estava tão desanimado que não digitei nada, apenas corrigir e ouvi Réquiem de Mozart - chateado sem forças para enfrentar uma depressão . O momento que vivo não é dos melhores, estou no quarto mês de tratamento contra uma tuberculose.
Peguei a minha ração literária na Biblioteca Itinerante do SESC, três exemplares. Uma condensação da obra que iniciou o movimento realismo "Germinal" de Emilio Zola; "Sidarta" do mestre alemão Hesse, o mesmo autor de "O Lobo das Estepes" e uma biografia de um inglês Richard Burton (que confundi com o ator britânico) escrito por Ilia Trofanov - guardei Balzac e o drama de Lucien e viajo nessas novas vertentes.
Uma lua bonita clareia os meus enegrecidos sonhos. Encerrei a leitura de "Germinal". Todos dormindo. Um ônibus vazio passa na avenida deserta. Os latidos dos cães e a minha solidão arejada por um vento sutil.
..Continuou com o pigarro chato na garganta. Junior, neto de Seu Eriberto emprestou-me "Wood Allen - uma biografia" de Eric Lax - sempre admirei esses cineasta desde quando li o seu fantástico livro "Cuca Fundido" com suas historias hilariantes, bem engraçadas, assisti poucos os seus filmes, agora de uns tempos para cá, os vejo com um pouco de sorte na SKY no TCM - e lê a sua biografia é bem interessante, conhecer a intimidade de um gênio que sempre amou o cinema.
Na Praça do Bacurizeiro Matraquinha estava triste e sozinho sentado atrás da amendoeira, quando me viu, o rosto alegrou-se. Sentei-me ao seu lado e ficamos botando conversa fora. Enquanto esperávamos os outros chegarem. Bebera as duas primeiras doses de misturada no Mundé - é o primeiro a chegar pontualmente entre seis e meia da manhã depois de comprar os pães da vovozinha do canto. Meia hora e depois chegou Gato tossindo desculpando-se por ter chegado atrasado para a primeira rodada. Os cachorrinhos ainda de olhos fechados dormitavam encostados dentro da caixa de papelão. A cadela mãe deles os abandonou. Cachorrão sobrinho do finado Home-eletrico contribui com um real para a primeira garrafa.
Durante anos maltratei o meu estômago. Primeiro foram as pílulas (bolinhas) de Optalidon que ingeria como água no inicio da vida adulta nos anos 80 - foram cinco anos ininterruptos, todos os dias - desde o amanhecer até a madrugada. Naquele tempo era o máximo ficar dopado vinte e quatro horas - levando uma vida quase normal - trabalhando com Pai Bamba na oficina, embriagando-me nos finais de semana de cerveja e cachaça com Coca-Cola. E nos finais de tarde, eu e Tio Willi íamos felizes as compras, que comprávamos livremente nas farmácias da Praça João Lisboa, tínhamos nossos vendedores que nos atendia com maior prazer. De uma vez compramos cinco caixas com quinhentos comprimidos, que passamos quase meia-hora debulhando, que os nossos dedos doeram de tanto pressionar as cartelas e depois o colocamos naquele vidro grande de bombom que Tio Willi achou na despensa abandonada do casarão dele. Foi uma festa, ingeri tanto comprimido que perdi o rumo e amanheci ainda ébrio e vacilando e então a casa caiu. Meus pais descobriram através da deduração do cagueta do mano Biné que foi apanhar as cartelas vazias que eu escondia atrás dos meus livros numa caixa de manzana argentinas no sótão, próximo onde dormíamos. Então fiquei mais cauteloso, mas não abandonei o vicio que alternava com umas baforadas de maconha no casarão de Tio Willi na Travessa da Lapa ou na humilde casa de Tio Karl na Praia do Desterro. -.
Flashback - Noite na beira da Praia Ponta D'Areia, no dia das Bruxas. Uma lua bonita fazia uma trilha incandescente sobre a maré cheia, as ondas espumantes quebrando nas areias e eu e a minha amada Van - fumei um baseado perto dela para harmonizar com o clima romântico,um reggae ao fundo que ecoava de um dos bares. Nossa primeira noite juntinhos longe de tudo e de todos. Como posso esquecer essa divina mulher maravilhosa que esta constantemente nos meus sonhos.

 
   
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