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O RURAL E O URBANO AQUI E AGORA

Pensamentos que me ocorrem enquanto
ando pelas estradas de terra de Tanguá

Fico imaginando o que passaria na cabeça de um turista – um cidadão de alguma metrópole como Tóquio ou São Paulo – ao andar no chamado Transporte Popular Rural de Tanguá, que liga pontos distantes do município (como Tomascar, Ipitangas, Duques e Minério) ao Centro da cidade. Eu, que tenho mais de 20 anos morando em Tanguá, ainda me surpreendo com a imensidão verde que a viagem descortina.
Cortando o município por estradas de terra, que passam em meio a pastos, restos da Mata Atlântica, amplos loteamentos ainda pouco habitados e plantações, o ônibus segue em passo lento, como se o tempo não tivesse importância. Os poucos passageiros – gente de Tanguá que aproveita a oportunidade de pagar apenas um real de passagem para ir “à cidade” fazer compras, trabalhar ou ir ao banco – muitas vezes não notam que estão transitando em meio ao maior tesouro do município.
Com núcleos urbanos pequenos, dispersos em uma área maior do que a do município de Niterói, e uma população que gira em torno de 5% dos moradores daquela cidade, Tanguá teve o seu crescimento em ciclos, especialmente no século passado – com a cana, que deu o maior impulso ao antigo distrito de Itaboraí com a instalação da Usina, a laranja, a cerâmica e o desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio, que encheu as margens da BR 101 de loteamentos, com seus terrenos baratos e nenhuma infra-estrutura. Mesmo assim, ainda daria para levar toda a população de Tanguá para assistir a uma partida de futebol no Engenhão, deixando uns 20 mil lugares para a torcida adversária.
A emancipação foi uma verdadeira aventura – um certo desejo louco de liberdade, sem dar muita importância à viabilidade econômica de Tanguá. Esperava-se abiscoitar royalties da Embratel mas, pouco depois de emancipação, a empresa foi privatizada e a Estação de Transmissões de Duques esvaziada (hoje funciona com pouquíssimos funcionários). A Cibran, que foi motor da economia da cidade por um tempo, já não estava bem das pernas e faliu, deixando trabalhadores à deriva. A mineração e a cerâmica estavam em decadência.
Tanguá, apesar de suas belezas naturais, potencial agrícola e proximidade com o Rio de Janeiro, estava fadado a ser mais uma cidade-dormitório que vive às custas dos repasses do Governo Federal, através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), e a ter a Prefeitura como principal empregador. Mais de 80% dos municípios brasileiros sofrem desse mal. Até mesmo os royalties do petróleo não faziam lá grande diferença.
Não faziam, mas agora, com a instalação do Complexo Petroquímico logo ali ao lado, em Itaboraí, o dinheiro do petróleo vai fazer volume e diferença nas contas da cidade – isso, é claro, se as raposas do Congresso Nacional não conseguirem matar a galinha antes que ela coloque seus ovos de ouro por aqui. Sem muito alarde, novos moradores e empresas estão chegando em Tanguá, numa versão “micro” do que está acontecendo de forma descarada em Itaboraí.
Tudo isso me ocorria, enquanto o tempo lento do velho ônibus pelas estradas de terra de Tanguá me levava, preguiçosamente. É comum entre os moradores que se mudaram para a cidade há pouco tempo encontrar quem nunca tenha feito o trajeto até Itaboraí via Posse dos Coutinhos – outra verdadeira viagem no tempo – ou que nunca tenha visitado a cachoeira de Tomascar, a Serra do Barbosão.
Quem sabe, o caminho do Transporte Popular Rural, com seu horário esparso, um dia se torne um roteiro para turistas que buscam o verde, as estradas de terra, o clima tranquilo das casinhas de colonos ou dos sítios. Ou, daqui a alguns anos, tenha se tornado um roteiro popular entre os próprios moradores da cidade.
A apenas uma hora do Rio, em plena Região Metropolitana, a gente quase consegue ouvir os versos de Tavito e Zé Rodrix, certamente na voz de Elis Regina, enquanto viaja: “Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos rocks rurais ...”, como se o idílio e o sonho ainda fossem possíveis. Talvez ainda sejam – quem sabe?


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