Na guerra perdi amigos,
vi a desesperança em cada olhar,
a morte à sua frente tão fria,
vi um cenário que não se apaga,
às vezes por causa dos bombardeios
não conseguia ouvir os gritos
que no desespero da morte eram interrompidos,
vi pessoas que olhavam a tudo
sem entenderem o que faziam ali,
crianças no início da vida, já órfãs,
crianças já sem vida, já sem dor,
os brilhos das estrelas apagadas,
a lua que derramava suas lágrimas,
vi a lembrança se transformar em saudades,
uma saudade já sem volta,
vi tantos chorarem diante do medo,
o medo da morte muitas vezes anunciada,
o medo de simplesmente sentir medo,
a esperança sempre de voltar com vida,
pelo menos para dar seu último adeus,
vi corpos que nunca mais retornariam,
chorei a partida de cada um,
ajudei a enterrar cada um,
e hoje ainda sofro os traumas,
ainda escuto os gritos e as bombas,
ainda vejo os corpos estilhaçados,
os olhos das crianças a pedirem ajuda,
dos inocentes que morreram por nada,
e hoje só posso dizer que sou um sobrevivente.

Alexandre Brussolo (31/10/2011)