Parece haver um código para que o tempo, que passa voando, não seja percebido exatamente como o é pelos seres humanos. Esses são resguardados de perceber a velocidade com que acontece, modificando física e mentalmente de uma maneira cruel, que se percebida pode destruir a pessoa através de um choque irreversível.
Todos se olham no espelho todo dia e o que conseguem notar é uma ruga ou outra, uma entrada ou outra nos cabelos, olhos embaçados... Atribuem ao estresse diário e procuram equilibrar usando produtos que prometem manter a juventude por mais tempo; não se sabe por que é tão importante manter a juventude quando o tempo passa, as paisagens mudam, o clima muda... Por que alguém de repente decidiu que envelhecer é ruim, e o processo deve ser retardado ao máximo, custe o que custar?
A visão que as pessoas têm umas das outras também parece ilusória, porque mal percebem mudanças em quem conviveu diariamente por muito tempo, isso dará uma visão clara do envelhecer nos outros. Em si as pessoas mal conseguem notar as cicatrizes, as rugas, a deficiência visual, auditiva, a impossibilidade de realizar atividades físicas facilmente alcançadas há vinte anos, que não parecem muito tempo porque o cérebro continua eficiente, enquanto o corpo definha calmamente, como a existência de uma flor.
A experiência alcançada não parece incluir o fato de que cobra por isso através da perda dos reflexos, da força física, da mobilidade... A experiência é contemplativa. Serve para que você a utilize para atenuar a ansiedade dos mais jovens, mas não para impedi-los de passar por todos os rituais que os levarão à velhice e à morte.
É um círculo vicioso, ou virtuoso que mantém a existência e insinua possibilidades, como vidas nova, renascimento, troca de consciências, existência espiritual e ainda mais. Entretanto, se pensar com clareza, é só vida. Começa, embrenha-se em milhares de ações denominadas livre-arbítrio, declina e termina, misteriosa como começou. E ninguém sabe exatamente por que envelhece.

Marcelo Gomes Melo