Efuturo: Carta Póstuma (R10)

Carta Póstuma (R10)

Esta carta foi encontrada na casa de um professor após vários dias sem sinal de vida dele. A polícia foi acionada e na casa só foi encontrada esta carta e mais nada, até hoje o seu desaparecimento é um mistério.


Carta Póstuma

Talvez, caros leitores, quando lerdes esta carta já não estarei mais neste mundo. Quem sabe estarei desfrutando as maravilhas do mundo espiritual, ou talvez, estarei apenas por passar por sofrimentos, já que o que estou para fazer não é digno do homem.
Mas saiba você, meu amigo, se assim posso chamar-lhe, há coisas no mundo que fazemos para alertar a humanidade da medíocre situação em que vivem, então daí o sacrifício.
Minha vida inteira, ou melhor, até aqui, foi encima de mentiras e enganações. Bem sabe você que sou professor, não se espante, é uma carreira digna sim. Não leciono por motivos financeiros, já que o que ganhamos mal dá para as nossas realizações pessoais, leciono por gosto, acredite. Só que aí está o problema, o desejo e a vontade de dar aula só se tornam satisfação quando temos alunos interessados em levar o conhecimento junto deles, quando a aula se torna o centro de interesse dos alunos.
Infelizmente não é assim, estudamos, e aquilo que aprendemos passamos a outros que nem sequer se ligam na importância do aprendizado, e na satisfação por parte do professor quando tudo que foi ensinado foi assimilado.
É, realmente, vivemos num mundo de mentiras, sustentadas por pessoas que não dão a mínima para o ensino e o aumento de seu conhecimento. Pessoas que sentam nas cadeiras das escolas e se dizem estudantes e de estudantes não têm nada, e o pior, estão enganando a si mesmas.
A hora de dar um fim a isto está chegando, de transformar o recinto escolar em um ambiente de respeito, de cultura e de busca de integridade no mundo.
Para isso pratico este ato, talvez covarde, mas quem sabe alguém lendo a publique, e as pessoas a lendo, parem para pensar e refletir, então aí sim, se não tive satisfação quando ainda havia esperança e vida em meu corpo, quem sabe a terei do outro lado, vendo que quando lida esta carta as pessoas tomaram um rumo mais íntegro, respeitando acima de tudo, nós professores.
Que Deus perdoe meu ato.



Alexandre Brussolo (24/03/1995)