Efuturo: UM ROSTO NA JANELA

UM ROSTO NA JANELA

Ele a olhava furtivamente. Aquele rosto, tão alheio à sua presença. Era assim, sempre assim. O carro deslizava suave, pela estrada tranquila, sem movimento. Era um momento triste, porém, mágico, quando ele se encantava mais com sua amada. Tinha a visão de um busto em fino talhe. Não precisava olhar para ver aquele rosto. Conhecia em cada detalhe, aquela tez clara e aveludada. O desenho da boca sensual impingindo ao desejo do beijo suave e prolongado. O nariz em estilo greco-romano. Aqueles olhos, ah, aqueles olhos, ele sempre dizia. Tinha o olhar tão misterioso e magnético que nunca conseguira decifrar a mensagem que vinha deles. O tempo nublado acentuava mais aquela angustiante e nostálgica distância. Sentiu um repentino desejo de tê-la para si. Como se tivesse recebido uma mensagem, daquele pensamento, ela deixa escapulir um profundo suspiro. Ele entende que o corpo de sua amada havia respondido àquele mudo desejo. Os seus corpos se comunicavam pela vontade de se pertencerem. Absorta em sua viagem mental, não percebeu o desvio do asfalto, para uma estrada de chão avermelhado e compacto. A mata fechada parecia saber da intenção do amor. Ela continuava no seu aparente alheamento e parecia que não, mas percebia a mudança de paisagem. Ficou extasiada com a visão exótica que surge à sua frente. O éden... Imaginou... Tanta beleza em meio àquela mata fechada, aquele espaço circulado por um paredão rochoso. De toda aquela extensão rochosa descia uma calma e cristalina água, na qual refletiam diamantes solares. A relva, circundada por aquele semicírculo aquoso, proporcionava uma estranha sensação. Flores nativas das mais variadas cores e perfumes. A mistura dos aromas confundia seus sentidos, deixando-a levemente inebriada. Era uma visão fantástica como que sobrenatural. De repente, lembra-se dele e o procura com os olhos. A imagem que surge à sua frente a faz arder de desejo. No desenho das pedras, a natureza esculpiu duas pequenas escadas, também em semicírculo. A água que descia pelos degraus corria da mesma forma para o lago. As escadas eram cobertas de minúsculas flores, como um papel parede natural. O tapete verde que cobria o espaço completava a visão paradisíaca. Sobre o tapete verde, outro havia sido colocado por ele. Tinha o vermelho do fogo. Ao imaginar o que viria a seguir, sente seu sexo arder, interrompendo sua respiração, por alguns milésimos de segundos. Vê que ele caminha em sua direção, outra vez seu corpo estremece. Ele se aproxima, abre a porta do carro e olhando fixamente em seus olhos,  a toma nos braços. Ela sente-se esmorecer e suavemente, com a cabeça em seu peito, se deixa levar. O fogo que a queimava lhe impedia qualquer resistência.
Ele a conduz envolto no desejo há tanto sufocado. Assim como ela, sente-se aéreo, como se o chão não registrasse seus passos. O cheiro que vinha da amada colaborava para seu desejo de possuí-la, naquele fascínio que sempre lhe acompanhou. Deita-a com o desvelo que se tem com a mais delicada flor. Ela sente-se afundar naquele macio e vermelho tapete de nuvens. Tudo parece flutuar... Inclusive seu corpo. 
Quando consegue abrir os olhos, ofuscados pela luz solar, vê-o, com as pernas circundando seu corpo, na altura das coxas. Podia sentir o calor que vinha dele, que a queimava mais. Com as mãos espalmadas no tapete, à altura de seus ombros, ele a olhava, como se olhasse algo, nunca visto naquela perfeição. Os olhares, cruzados, aumentavam o desejo, em ambos. Ela fixava aqueles olhos carregados de desejo, que aumentava o seu. Já não controlava o tremor dos lábios e ele vai descendo o rosto rumo ao seu e os seus lábios se encontram num longo, suave e ardente beijo.

Membro das academias:

Academia Internacional da União Cultural
Academia Rotariana de Letras, Artes e Cultura - ARLAC