Efuturo: O ESPELHO NEGRO DA BRUXA BEAVOR/ Coleção Contos

O ESPELHO NEGRO DA BRUXA BEAVOR/ Coleção Contos

O ano era 1755...
Cidade de Terra Santa.

A noite estava densa, uma lua vermelha flutuava sob a densa escuridão. O relinchar dos cavalos ao longe da casa e o barulho de uma charrete sendo arrastada entre as matas.
Não demorou para abruptamente parar e um belo cavaleiro descer.
A mão estendida para ajudar a subi-la e o degrau de ferro descido para apanha-la.
O som que antes ouvia voltou a soar sob seus ouvidos. Os chicotes estalavam ao percorrer as matas. Mas, parecia que tudo ia ficando mais escuro, seus sentidos iam desaparecendo, assim, como a sua visão.
Não ouvia, nem via. Apenas, sentia que estava sendo levada como os ventos do norte que protegiam o sussurrar dos guerreiros cavaleiros da noite.
Parecia horas até sentir que seu corpo adormecia. O sono profundo querendo invadir sua alma, mas não conseguia deixar se levar pela tormenta dos tremores da charrete.
Uma puxada brusca nos pescoços dos dois cavalos à frente fez os parar. Uma voz rouca e jovem estremeceu-a deixando desperta pela viagem cansativa e exaustiva.
— Chegamos senhora Beavor. — Exclamou quase que imediatamente.
— Oh! É claro meu jovem. — Mas, me chame de senhora Ana.
— Desculpe senhora Ana. — É que todas as vezes, quase não vejo o seu rosto. — Desculpe a minha indiscrição.
— Tudo bem. — Olhe agora!
O rapaz puxou o chapéu preto liso e colocou sob seu peito e pela primeira vez encarou-a. Seu olhar naquela noite demonstrava mais medo do que afeição.
— Viu? — Eu não mordo.
Beavor estendeu as finas mãos sob suas longas luvas pretas e cumprimentou o. Seu aperto de mão foi informal.
— Agora, você pode ir e esta noite não precisa voltar.
Como sempre o jovem rapaz levava-a na floresta e deixava-la sozinha. Voltava apenas quando o sol nascia. Isso, todas as luas cheias.
Precisamente essa noite ela carregava uma espécie de caixa e pedia para ele não voltar.
Ele tirou seu relógio de bolso numa extensa corrente de prata e verificou.
— São 01:45h. — A senhora ficará bem?
— Sim, é claro.
A viagem a cavalo era de quase duas horas. Para ela voltar sozinha seria extremamente exaustivo. Ficou duvidoso, mas conhecendo as fofocas do vilarejo decidiu ficar de boca fechada ao invés de retrucar.
No vilarejo as pessoas diziam que ela era uma bruxa e que não deviam olha-la de frente, pois poderiam ver o próprio satanás refletindo sobre seus olhos.
Naquela mesma noite ele tinha desafiado os boatos.
Quando ele aceitou o trabalho de leva-la à floresta sentiu medo e pavor, mas aceitou porque ela pagava-o bem.
Naquele momento, sentiu um frio na espinha e teve uma ideia. Levaria os cavalos até onde os ouvidos não pudessem distinguir o barulho. Amarra-los e voltaria a pé para espiar.
Justamente na noite que ela o deixou olhá-la, sentiu que nunca mais voltaria a vê-la e ficou melancólico por isso.
Os cavalos lidavam com seu nervosismo e sentiam o seu medo, sua aflição, seu desassossego. E eles simplesmente devolvia tudo que sentia.
Num determinado momento parou. Olhou para cima e viu uma lua que o enfeitiçava. Depois, olhou para trás. A ansiedade de voltar e vê-la novamente, de tocar suas finas mãos e de ver seu rosto pálido sob um capuz negro e um véu que descia até o seu queixo.
Sentiu que estava definitivamente enfeitiçado.
Ele não deveria ter deixado ela toca-lo. Ou sua mente estava muito carregada de superstições fantasiosas porque ela afinal era apenas uma mulher viúva. Jovem e bela que sempre estava sozinha, bem afeiçoada e arrumada. Tinha hábitos de passear na floresta nas noites de lua cheia e de possuir alguns bens e animais domésticos. Em especial, seu gato preto que sempre roçava em seus vestidos deslumbrantes.
Arriou os cavalos um pouco a frente e amarrou-os. — Eu volto logo. — Pensou.
Começou a andar pelas matas e trilhou o mesmo caminho percorrido olhando sobre os raios que penetravam da lua como se fosse seu sol do dia anterior.
A charrete tinha quebrado a passagem de tantas vezes que passara por ali. Viu os alecrins e as ervas daninhas que tinham se desalinhado do caminho que estava. Mas, naquela noite já tinha decidido que nada quebraria o seu coração. Nem mesmo, o último olhar de Ana Beavor.
Essa noite ele descobriria seu segredo.
Andou por tanto tempo sozinho que pôde compreender o canto dos grilos que se repetiam de um em um minuto. O rastejar de répteis, talvez, perigosos. Sua percepção estava tão aflorada que sentia os minúsculos sons dos insetos.
Alguns animais maiores fez parecer que aquela mesma noite ele morreria.
Seus pés não paravam, seu coração acelerado pelos sons que pareciam ter se multiplicado fez o tremer e agarrar uma árvore.
Em alguns minutos. Abriu os olhos. Ordenou à sua mente assombrada pelos temores da noite que o fizesse acalmar. E, sentiu em seu rosto a casca de um salgueiro solitário.
Pela primeira vez em toda a sua vida o medo aproximou-o da natureza. Todas aquelas idas e voltas ele nunca sentira vontade de voltar ou abraçar uma árvore por medo. Mas, isso provou a profundeza de uma noite negra.
Sentiu-se tranquilo e seguro como se estivesse no colo de Gaia.
Novamente o silêncio da noite e o sussurrar dos pequeninos voltaram a surgir. O canto dos grilos de um em um minuto.
— Irei encontrá-la. — Bradou.
Um clarão vinha de longe. Junto um som de tambores que cobria o canto dos grilos.
Um som abafado, feminino e uma vogal que compreendia. A vogal a.
Distante, não muito longe. Se ouvia como as vozes das fadas. Nunca ouvira as vozes das fadas. Mas, era uma voz céltica, tranquilizadora, sutil e hipnotizante. Uma litania.
Conforme andava, o vento em seus ouvidos dissipava e uma forma de filtro corrigia no ar.
A música cantada era uma rima clássica. Com duas linhas entoantes e um verso triplo. Fácil de memorizar.
O som da vogal a antes ouvido era apenas um prelúdio da rima.
Ficou parado olhando a fogueira que queimava um som crepitante. Uma dúzia de mulheres, pelo menos. Nuas. De mãos dadas, uma a uma de costas em volta daquela fogueira. Da forma, de que, quando se juntassem, as costas ficavam para a fogueira.
A música soava sempre numa forma de transe emocional. Não parava.
Rasgue o véu do luar
Gire a roda do tempo;
Abra, portal abra
E nos faça viajar;
Como o ar em qualquer lugar.
Havia uma caixa ao lado. A mesma caixa que carregara. Tentou olhar para todos os lados e viu que no centro, bem perto da fogueira tinha um espelho.
Sentia uma leve dor nas pálpebras. Mas, continuou olhando. E viu como se o espelho realmente fosse um portal. Um plasma diria. Mas, naquela altura. Um ar modificado e transparente era o que conseguia explicar.
Olhou repetidamente uma a uma entrar. E, eram treze mulheres.
O som acabou. A fogueira continuava a queimar. O silêncio perpétuo daquela noite voltava com todo o terror que antes lhe causou.
Fora mais perto, e viu que nada tinha restado. Nenhuma delas. Apenas, o fogo e aquele espelho estranho.
Pegou-o na mão e era completamente duro. Não havia nada, nem uma explicação para sua mente conturbada e insana.
Sentou numa das pedras e ficou lá.
O medo tinha esvaecido. Junto com suas esperanças. Ele queria tanto vê-la. Mas, sabia que naquele momento. Tudo tinha acabado.
Ele pegou o espelho guardou-o na caixa apagou o fogo e foi embora.
Realmente todos os boatos do vilarejo eram verdade. Ana Beavor era uma bruxa. — Como e o que diria as pessoas para onde ela foi? — Se pela última vez fora visto com ele em sua charrete.
As pessoas iriam duvidar dele e possivelmente começariam uma especulação nada boa para sua reputação. Ninguém acreditaria em como ela e mais uma dúzia de mulheres entraram num espelho negro. Diriam que eu estaria louco e me internaria num hospício.
A única coisa que passou em sua cabeça era que poderia dizer e jurar que Ana fora passar um tempo na casa de uma tia. Uma história justa e não precisaria de dar nenhuma outra explicação. Esse era o problema de se viver numa cidade tão pequena.
O pobre Frederico não sabia que estava sendo observado pelos caçadores de bruxas.
Um homem gordo de bigodes grisalhos, conhecido como devorador de almas lhe fez milhares de perguntas sobre a noite anterior. Porém, sempre desmentido qualquer que fosse o boato constrangedor. Mantinha um auto controle invejável.
Aguardou o próximo mês da lua cheia, iria escondido espiar o local.
Fez isso por sete longas lua cheia. — É impossível que ela tenha desaparecido através de um espelho. Pensou.
As pessoas começaram a duvidar de sua palavra e os serviços de levar as pessoas e os mantimentos desmoronaram. Começaram a procurar por Ana porque uma vizinha próxima à ela tinha comentado que ela não tinha nenhuma tia. Quase toda a sua família morrera por um tipo de doença contagiosa que havia se espalhado como uma febre.
Frederico de fato era o único incompreendido sobre realmente o que vira naquela noite. E isso, ninguém poderia mudar a sua forma de pensar.
Era uma sábado. Ele ia pra cama e resolveu pegar a caixa pra dar uma olhada. Notou que fora da caixa havia sigilos. Só agora ele podia observar vagarosamente. Abriu, pegou o espelho que estava embrulhado num tecido fino gelado e preto. Naquele momento encontrou-o no fundo da caixa. Ele não havia embrulhado, mas sabia que o cuidado de Ana sobre aquele objeto era muito delicado.
Atrás do espelho alguém tinha maneado uma tinta negra e fosca. Não era um espelho comum.
Viu que os detalhes entalhado sobre a madeira parecia com a lua em todas as suas fases.
Guardou-o novamente e fora dormir. Tinha se passado sete meses desde o seu desaparecimento. — Onde quer que fosse já estaria morta. Imaginou.
Durante o sono ele notara um detalhe. O sonho profundo fez o mergulhar sobre os portais de marfim. Onde as ocasiões do tempo pudesse toca-lo de verdade e mostra-lo os seus devidos valores.
Naquela noite fatídica, ela tinha um perfume forte e difícil de esquecer, impregnou em sua narina, mas só agora o seu subconsciente o trazia de volta.
O toque informal agarrando-o sobre o seu punho.
Tinha ouvido falar sobre os unguentos das bruxas feitos para causar alucinações.
Tudo poderia ser uma fantasia. Mas, logo se lembrou que havia se passado sete meses. — Onde ela estaria?
Ele via Ana Beavor durante seu sono vestida com aquela vestimenta preta, o capuz negro que cobria seus cabelos cor de mel. Ele sabia que era ela por causa da caixa.
Ela se virou rapidamente e disse algo, mas sua voz não pertencia ao mundo dos vivos. E se esforçou para entender sua mensagem. — Não volte lá, destrua o espelho. É o que parecia dizer.
A voz abafada parecia pedir ajuda mas, ao invés disso pedia que ele se afastasse dela e destruísse o espelho. — O que poderia estar acontecendo.
Antes que acordasse viu Ana sendo arrastada por uma força misteriosa. Suas pernas não se movia mas, mesmo assim, conseguia estar em vários lugares.
Acordou com uma forte pressão nas têmporas e largado sob a cama como se estivesse flutuando.
Ficou pasmado com a situação e achou que era o momento de falar com um padre.
Fora imediatamente procurar pelo Reverendo Ezequiel Vaz.
Pela manhã quando Frederico entrou na igreja todos olharam. O sermão de Domingo foi tumultuado pelas fofocas de que aquele homem amigo de uma bruxa não fora confessar, mas pedir um exorcismo. Na verdade, ele só procurou o padre porque acordou meio metro acima da cama. Achava que o mal encarnado não estaria em outra pessoa a não ser ele próprio.
Estava bem difícil viver sua própria vida até porque aquelas pessoas só sabiam aponta-lo.
E mais uma vez, o caçador de bruxas apareceu. Indignado, apontou o dedo no nariz do devorador de almas e disse. — Eu realmente gostaria que você vomitasse todas as almas que você engoliu. E saiu de encontro com o Reverendo.
Ezequiel já estava à sua espera.
— Entre meu filho. Não fale assim. Todos somos filhos de Deus.
— Pessoas como ele não. — Como eu devo ajudar Ana?
— Não há nada a fazer. Já se passou muito tempo.
— O senhor não está me ajudando.
E saiu em busca de uma resposta fora dali.
O padre continuou olhando até ele bater à porta da sacristia. E fez o sinal da cruz.
Depois que Ana desapareceu ele começou a anotar as fases da lua. Encontrar a cheia e seguir nas matas. Virou uma obsessão.
Começou a dar menos importância ao que as pessoas diziam. Passava mais tempo com seus animais e trouxera os de Ana para cuidar em sua casa.
Ele não estava ficando louco como todos o apontavam. Apenas estava seguindo com sua vida, cuidando de seus poucos bens e dava mais valor as pequenas coisas que antes julgava desnecessário. Como cuidar dos seus alimentos com mais amor.
No fundo de seu coração ele sabia que o que vira naquela noite não foi uma alucinação. Foi verdade, confiava em seus olhos. Embora, o resto do mundo duvidasse. E, mais ainda, queria entender porque ela não queria que ele a ajudasse. Ele a queria por perto. Ele a amava.
A noite era quarto crescente. E, Ana deu um segundo contato. Ela dizia em seus sonhos. — É muito perigoso, fique longe. Eu também a amo.
Uma voz em seus ouvidos dizia ao contrário. — Pegue um giz, faça um círculo... Esteja dentro dele para te proteger. Ascenda as velas e invoque a terra, o ar, a água e o fogo. Peça para os espíritos te guiarem e deem seu sangue em libação. — Venha, venha logo, estarei te esperando quando os dois ponteiros do relógio bater ao norte.
Acordou num suspiro profundo como se a morte tivesse se instalado em seu corpo em algum momento.
Ao mesmo tempo que ela pedia para ele ficar longe essa voz apareceu dando as instruções. — O que deveria fazer? Pensou.
E ficou sem o que fazer imaginando o que seu coração pedia para ser feito.
Num determinado momento disse. — Vou arriscar.
E saiu em busca do que precisava para a meia-noite.
Seu coração pendia para o fato de que tudo poderia dar errado e mesmo assim, jamais poderia vê-la novamente.
Mas, a outra metade do seu coração também dizia que se não valesse o esforço de vê-la é porque nunca a amou. E isso, não era verdade.
Pegou a caixa e seu cavalo e fora para a mata.
Não cavalgou muito tempo para encontrar o homem gordo devorador de almas e seus dois capangas.
Os cavalos relincharam bruscamente e ficaram os três parados na frente da passagem de Frederico.
— Saiam da minha frente. — Essa noite vocês não deveriam estar aqui.
— E por quê assassino de mulheres. — Sabemos pela polícia que desapareceram muitas mulheres nesse vilarejo. — Não há bruxas, apenas um assassino.
— Já disse. — Saiam. — Sou um homem livre para fazer o que tenho vontade.
— Então nos entregue os corpos.
— Que corpos? — Ficaram loucos?
Quando parecia ter vontade de irritá-lo ainda mais. Algo queria sair de sua garganta.
O homem gordo devorador de almas vomitava seus pecados. Girinos saíam de sua boca sem parar. Talvez, pelos pecados de caluniar as pobres mulheres e homens desprotegidos intelectualmente para roubarem suas terras. Aqueles homens ganhavam dinheiro para levarem suas cabeças.
Os dois homens que seguiram olharam aquilo enojados e apontaram agora como bruxo e assassino. Mais duas qualidades que desconhecia.
— Você é um bruxo?
— Vão cuidar de suas vidas.
O homem gordo estava exausto e enojado com aquela situação. Pegou uma faca que guardava em sua cinta e passou em seu pescoço.
Os dois capangas vendo aquilo deu meia-volta e seguiu apressados com seus cavalos barulhentos.
Frederico olhou-o por um breve momento e consentiu um pouco de culpa mas, não havia muito tempo. Devia seguir em frente.
Ficou pensando se o toque de Ana o fez levar acontecer tal coisa. Ficou assustado e ao mesmo tempo aliviado. Os três sempre ganhavam dinheiro da forma mais cruel possível. Eram uns verdadeiros sórdidos.
Não havia muito tempo até a meia-noite. Ele já deveria estar no local e ter feito tudo que deveria fazer.
Sombras e luzes passavam rapidamente sobre o cavalo. A correria contra o tempo já tinha começado.
Enfim, chegou. Mas, quando estava ascendendo a fogueira parecia ter visto algo.
Continuou sem cessar. Desta vez, posicionou o espelho na direção da lua para refletir sua imagem. E viu dentro do espelho sobre o luar as treze mulheres.
Ficou terrivelmente assustado. Mas, continuou. Fez o círculo e ficou dentro. Fez contato com os elementos e pediu proteção. Pelo menos, ele acreditava estar fazendo isso.
E ficou na frente do espelho.
Algo muito forte bateu contra seu peito e ele caiu abruptamente ao chão.
Sedentos de algo. Uma voz o recitou.
— Ainda falta o melhor. E uma longa risada se instalava sobre as matas.
— O que quer? — Libertem a Ana.
— Sim. — Eu libertarei se assim fazer...
— Fazer o quê?
Uma voz trêmula dizia... — Não.
— O sangue para libação.
— Eu darei tudo que quiserem.
E outra voz risante pairou sobre ele.
— Então o que está esperando? — Corte o antebraço na posição vertical. Do punho ao cotovelo.
E ele sem pensar afundou a faca demais e rasgou seu braço esperando que Ana voltasse.
Depois de um breve tempo sangrando não entendia ao certo se realmente tinha conseguido. Apenas, sentia suas vistas escurecerem. Ele queria dizer algo, mas sua voz não saía. Seu coração desacelerava. Sua respiração ofegante lutava para arfar ar. E, tudo que entendia era que aquela sensação melancólica ia passar.
Na verdade, ele estava morrendo ali e sozinho acreditando fielmente que a voz pudesse trazer Ana de volta.
Fatalmente ele estava partindo sobre um feitiço de cessão. Uns diziam, fundamento. Mas, na verdade ele não estava criando nada. Apenas, desfazendo.
Mas, tudo isso, ele não sabia.
Ele emprestou seu corpo e renunciou sua alma. O suicídio deixou os portais da vida e da morte abertos.
E consequentemente, o responsável pela sua morte não contava com um único detalhe. O auto sacrifício.
Ele acreditava tão fielmente que Ana seria liberta que não pensou sequer que poderia morrer. Apenas, agiu por amor, por compaixão, por clemência. Ele queria-a mais que tudo. E isso, o salvaria. Ele nem sequer sabia que estava se suicidando. Mas, enfiou a faca muito profundamente.
Todas as mulheres foram enclausuradas no espelho negro e todas agora estavam libertas.
Graças a Frederico.
Ana Beavor não queria fazer algo mas, não conseguiria viver sob a pena de que seu melhor amigo teria partido para salva-las.
Se falecido marido tinha feito tal travessura e queria se apossar do corpo daquele homem bondoso. Ela não deixaria. Ela sempre o amou mas, isso não. Ela não aceitaria.
As mulheres rapidamente rasgaram seus vestidos. Cada uma pegou um pedaço fazendo nós. Assentou justamente ao corpo de Frederico como uma mortália e fizeram um encerramento.
Se fizessem isso, todos os seus pecados seriam predestinados a elas. Para cada uma delas. Mas, fizeram para um bem maior.
Embora, jamais acreditassem. Aquele homem, morrera e vivera e ninguém poderia entender. Era um segredo delas e da mãe lua. Afinal, elas só estavam de volta por causa da bondade dele.
Aquele mundo estavam poderia as vezes, deixa-las irritadiças. Queriam se aventurar mais do outro lado do espelho negro. Onde as cores e os sabores eram indescritivelmente muito melhores.
A noite ainda permanecia escura e elas dançaram até quase o amanhecer.
A noite mais longa, a mais festejada, a mais brilhante e a mais feliz de todas.
Porque todos estavam bem e de volta. E Frederico se emocionou ao dar o primeiro beijo em Ana Beavor.