Efuturo: SINAL FECHADO

SINAL FECHADO

A vida parece perder o sentido quando o sinal de trânsito fecha, porque o medo se apresenta em qualquer hora e situação. Parece rótulo, mas, é realidade. Tudo pode acontecer durante o sinal fechado: abordagem de ladrões, vendedores ambulantes, malabaristas, pedintes, ofertas da Bíblia e, até, pessoas fingindo ser paraplégicas, em cadeiras de roda, esmolando.
Digo estar perdendo o sentido, pois não podemos esboçar reações. O medo comporta nossas atitudes em relação à maldade que poderemos sofrer. Thomaz Albornoz Neves expressa, “Em silêncio / a passagem // Sol sem imagem”.
Ando pelas ruas em agonia. Não tenho mais o prazer de apreciar a arquitetura dos prédios, a jardinagem, as praças, nem o vento através da janela aberta do carro. Sempre com a preocupação de me cuidar no sinal, quando fechado. Silvio Duncan pergunta, “... porque somos as vítimas / deste tempo perdido?”.
Até quando seremos reféns do medo? Até quando nos manteremos presos em nossas gaiolas? Até quando espiaremos a vida pelo vidro da janela? Até quando ficaremos no silêncio assustador? Criaremos coragem para desafiar a desesperança e nos encontrar sem medo de ser feliz?
Sempre espio todos os lados, no sinal fechado, pelo medo de ser abordada para nada. Medo que interfere na hora da decisão e, pior, cria mistérios pela desconfiança dificultando a rotina.
Parece demagogia, mas, não nos sentimos seguros, no momento em que paramos nos semáforos e alguém nos encara; o pensamento vasculha a lembrança na procura da exceção como garantia de vida. Outra vez o que encontro é o medo da violência sem motivo. Gilberto Gil e Caetano Veloso compuseram que “... Tudo é perigoso / tudo é divino e maravilhoso //... É preciso estar atento e forte / Não temos tempo de temer a morte...”.
Perco o sono pensando maneiras de conferir dignidade aos desfavorecidos, sem ideologia ou desesperança, para que todos possam proteger a liberdade e, assim, possamos contar histórias aos nossos bisnetos. Paulinho da Viola, na composição do Sinal Fechado revela, “Olá como vai? //... - tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?/ - tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo... Quem sabe?...”.
Entre a ironia da vida e a rotina, deparamo-nos no trânsito com o sinal fechado, levando-nos a temer pelo o que poderá nos acontecer.
A vida valerá quando nos tornarmos seres completos sem fixar preço para a liberdade. Walmir Ayala ressalta que “um poeta nunca é pobre, quando tem a riqueza de sua consciência poética”.