Efuturo: Como será o depois

Como será o depois

Fiquei feliz em saber que Yuval Noah Harari recusa de maneira veemente o rótulo de guru. Atualmente quando olhamos para aqueles que se apresentam como gurus levamos alguns sustos ao saber o que pensam. Um exemplo é Olavo de Carvalho, apontado como o guru do presidente Bolsonaro. A carreira do tenista Novak Djokovic desandou quando seu guru passou a sentar-se entre seus técnicos. Foi o guru sumir e Djokovic recuperou o posto de número um do mundo.

Um pensador do século 21, é como devemos chamar o autor de três best-sellers mundiais. Muito requisitado por onde passa, no Brasil foi entrevistado no programa “Roda Viva”. Seus livros “Sapiens — Uma Breve História da Humanidade”, “Homo Deus — Uma Breve História do Amanhã” e “21 Lições para o Século 21” foram traduzidos em 45 idiomas. Harari tem leitores ilustres como Barack Obama, Bill Gates e Mark Zucherberg. Um nada ilustre, eu.

Com o Covid-19 sendo o assunto na mídia mundial, Harari escreveu um artigo para o jornal inglês Financial Times. Sempre competente e ao lado da ciência, o artigo descreve as mudanças que ocorrerão no mundo pós-pandemia. Foi preciso um vírus para fazer a humanidade refletir sobre ela própria.

Harari diz que que a raça humana sobreviverá. A maior parte dos humanos ainda estarão aqui quando a pandemia acabar. Entretanto o mundo que habitamos mudará para sempre a forma como organizamos nossos sistemas de saúde. Da mesma maneira, deve moldar mudanças nas estruturas econômica política e cultura das sociedades.

Harari chama a atenção para o isolamento. Hoje já somos vigiados através de câmeras, drones e algoritmos. Com as tecnologias avançando, numa futura pandemia, governos já terão a capacidade de monitorar a saúde de cada pessoa. Controlar a pressão arterial, a temperatura corporal, sobre o pretexto de conter a disseminação de futuras epidemias.

Então se os governos quiserem poderão nos conhecer melhor do que a nós mesmos. E quererão. Não preverão apenas nossos gostos e sentimentos. Também manipularão o que sentimos para nos vender o que quiserem. Seja um produto ou um político. Em menor escala, as redes sociais já conseguem tais proezas.

Harari opina que entre nossos dados e nossa saúde optaremos pela saúde. Com essa escolha o que os líderes políticos devem fazer é munir os cidadãos de informações corretas com embasamento científico. “É o que estamos fazendo neste momento”. Sabemos que nem todos estão fazendo.

Yuval sugere que com sorte, o Covid-19 será a maior crise vista pela nossa geração. Também vivemos numa época na qual políticos irresponsáveis argumentam que não devemos acreditar na ciência. Quando isso acontece é o princípio do autoritarismo.