Efuturo: QUEBRADO

QUEBRADO

Qual é o nosso estilo de vida se a palavra “quebrar” faz parte do avanço promissor, como em quebrar a rotina, quebrar o protocolo, quebrar o gelo na relação – mas, tudo pode significar, simplesmente, fazer algo novo, voltar o olhar para o diferente. Como se ao dizer em voz alta as palavras parecessem (mais) verdadeiras.
Quantas vezes pensamos no espelho quebrado, como história de azar. N’O Livro das Crendices, Silvinha Meirelles cita:“- espelho, espelho meu: / haverá no mundo alguém mais bela do que eu? / - Provavelmente; /e se deixar me quebrar, / mais azarada / não haverá de encontrar. / Sete anos de infortúnio, / impiedosamente, / terás de suportar...”
Infinitas vezes, livros quebram a rotina e trazem alegria ao viver, pela “companhia” e diferença, como no caso do livro de Carlos Pessoa Rosa, Sobre o Nome Dado (exercícios), “... é necessário reconhecer o autor e seu caráter, fato em si, por precisar de legitimação de um corpo a partir de um pensamento, muito difícil de ser definido, mas que deve ser tratado com perseverança, a partir de um nome, caso acreditamos que dar um nome significa dar alguma coisa...”
A vida se repete em jogos diários e a palavra é marcada pelas nominações dos significados, dando razões às lembranças depositadas pelo caminho. Quando “quebramos” as razões que perpassam os sentidos, olhamos para dentro e não escutamos a música, nem vemos as flores murcharem; resistimos à mentira e fechamos a porta; lemos versos de saudades e descobrimos o instante. Pedro Du Bois revela no livro A Palavra do Nome,” Enquanto ouço a música / sinto / o nome. Sinais organizados/ em sons / repetidos...” ou “As palavras falam sobre os nomes... o som dos nomes ressoa nossa criação e a manutenção da espécie, como resposta para a despedida e o retorno”.
“Quebrar” o momento com declarações ou restrições é remeter a opinião à desemparelhar os lados das notícias recolhidas em mistério; apenas, dizemos porque desconfiamos da magia das palavras em movimento, para recuperar o nome perdido entre paredes, ao pensarmos antecipar a vida ao “quebrar” o clima da festa, ouvir o choro dos perdedores e no repousar em paz ao ser chamado pelo nome. Ainda em Carlos Pessoa Rosa, “... meu nome, sem artigo ou gênero, é apenas um nome bastardo, híbrido e corrompido, privado da lucidez e adivinho...”