Efuturo: INFÂNCIA NA ROÇA

INFÂNCIA NA ROÇA

Garimpar imagens na imensidão da internet e observá-las pode ser um bom exercício para compreender o mundo nos dias de hoje e também nos tempos idos. Muitas vezes as imagens falam por si mesmas, como nas fotografias de Sebastião Salgado, mas elas podem (servem) para ilustrar crônicas e poemas como é o caso do meu poema "Infância na Roça", escrito em abril de 1975, que fiz em memória a minha infância no meio rural de Borborema (SP). As imagens podem ajudar na compreensão de textos, podem? Elas podem falar mais que os textos. À imagem e ao poema!

O lampião de pálida luz,
pendurado no teto
esfumaçado,
o chão de terra dura,
pisada.
Uma luz pálida...
o rosto silencioso de minha mãe.

A mesa,
paus rústicos,
tábuas...
Meu pai no banco
ao canto,
distante...
ensimesmado com seu pito
soprando fumaças.

O ar cheirando à terra molhada.
Eu sentado ao chão,
manipulando bolinhas coloridas
de vidro,
esquecido em mim,
absorvendo o silêncio
à minha volta.

O mundo era bonito;
tinha o chão, o lampião,
o telhado velho
que me protegia da chuva,
tinha a parede que me escondia
dos bichos do mato
e o mato cheio de bichos
lá fora.
Assim era a vida...

Zildo Gallo - Americana, abril de 1975