Efuturo: ALICE OU FLORBELA (Crônica escrita em setembro de 2012)

ALICE OU FLORBELA (Crônica escrita em setembro de 2012)

Dias desses recebi um e-mail. Queriam saber em qual candidato votarei para prefeito. O e-mail teve o mesmo destino que 95% das bobagens que recebo. Primeiro a caixa de lixo eletrônico. Depois exclusão sumária e sem dó.

Hoje, sem mandar nenhum e-mail, eu vou perguntar. Se você hipoteticamente pudesse substituir a tua dualidade, esse “euzinho” escondido dentro de cada um de nós, quem você gostaria de ser? Alice ou Florbela? As duas são provas definitivas da existência dessa dualidade.

Calma, eu explico. Florbela Espanca era uma poetisa portuguesa. Alice é a mocinha quase imortal de “Resident Evil”. Quem já leu Florbela Espanca levante o dedo? Hum! Quem já viu Alice, ou melhor, Mila Jovovich? Ah! Agora sim, vejo muito mais dedinhos levantados.

Talvez, sem carregar essa dualidade, a realidade virtual não seria tão atrativa. Nem a mocinha Alice, e nem as poesias de Florbela existiriam. Só mesmo os labirintos do nosso eu interior são capazes de criar raridades como as duas. Com a diferença que Alice é virtual e fictícia. Florbela Espanca era real.

Descer ao nosso eu interior é uma aventura inigualável. Um passeio único. É preciso ter o cuidado de não pensar que se está num videogame. Nossos diabinhos já podem desacorrentar-se por consoles, teclados ou cliques. Chaves são coisas do passado. Basta um descuido, e tudo foge do nosso controle. Alice e Florbela são mestras nesses passeios.

Em “Resident Evil 5: Retribuição”, ou nos quatro anteriores, Alice é sempre uma incógnita. Criamos um vínculo com ela. Em 99% dos casos, esse vínculo é com a heroína. No entanto, Alice está mais para nosso subconsciente do que heroína. Nossos diabinhos se alimentam dos seus medos. Todos nós temos nossas “Umbrella Corporation”. Nossos “T-Vírus”. Enquanto “mata”, Alice está brigando com a Alice dentro dela. Nada diferente do nosso dia a dia.

Florbela Espanca, também conhecia seus diabinhos. Ao contrário de Alice, não matava meio mundo de brincadeira. Com sonetos e rimas, às vezes amargas, outras vezes doces, Florbela espremia e expulsava seus medos. Com certeza essa mulher temia que seus diabinhos engolissem sua alma. Almejava o céu, e tinha um pé no inferno. Nada diferente do nosso dia a dia.

No soneto “Minha Culpa” ela diz: “Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem/Quem eu sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem.../Sou um reflexo... Um canto de paisagem/Ou apenas um cenário! Um vaivém...” Florbela se dizia “um verme que um dia quis ser astro”. E termina como um autêntico Ser Humano. “Sou mais um mal, sou mais um pecador...”