Efuturo: EXTRAVASANDO

EXTRAVASANDO

Rio, 26/05/2015.


Correm mágoas
Nas águas
Do rio lento.
O que eu penso
Está guardado
Sem olhos
E os molhos
Das carícias
De amores
Grudentos
E os ventos
Arrasadores
E as cores das flores
Despedaçadas
E os jardins
São de pedras
E os jardineiros
Sofrem dores
E as árvores
Fictícias
Em sonhos
Que medras
Na cama
Dormindo
Na rua
Sem lua
E também sem saída.
Abortada a vida:
Despedaçada,
Triturada,
Sem futuro
E moída.
E gente no salto
Num plano alto,
Não calçam chinelos,
São tão opulentos,
Sem verde e amarelo,
Vivem em castelo,
Têm corações pretos,
Não conhecem apertos,
Não têm emoção,
Vivem em tempo paralelo,
Ocupam outra dimensão
Comendo pizza de caramelo.
E dos jardineiros
Cuidado quem tem?
Espremidos qual bagaço,
Espoliados no seu vintém
Nas falcatruas de cada pai-aço!



SEDNAN MOURA