Efuturo: Treze Luas/ Coleção Contos

Treze Luas/ Coleção Contos

Estava caminhando para a metade do verão em 1945 quando tudo começou.
Por anos ninguém ousava dizer aquela palavra, esbá. Mas, alguns moradores locais perceberam que era impossível segurar tantos segredos num lugar onde quando todas as luzes se apagavam. Uma enorme se ascendia no céu.
Em Fortune, norte do país havia uma fazenda conhecida como lua de sangue por seus hábitos contundentes em celebrar as fases lunares com festas e cervejas, vinhos e outras bebidas.
Selene era a mais jovem das outras e Tobias ficara impressionado como todas aquelas mulheres jovens se encontravam e ninguém os via.
A mira da arma de Tobias mirava numa roda acesa. As pedras cercavam uma fogueira iluminada e as chamas as a alegravam para danças vestidas apenas de céu.
Tobias estava impressionado com a festança e tamanha engenhosidade em que elas se sentiam confortáveis em dançarem nuas.
Suas duas filhas Bele e Sine foram atrás de seu pai escondida entre as matas e ficaram encolhidas olhando a reação dele. Ele falava sozinho e perceberam que ele não estava acomodado com a situação e sim incomodado e pensara em voz alta. — Se minhas filhas ousarem em participar disso eu as mato.
Então assustadas correram pra casa antes que seu pai subisse no cavalo.
Tobias jamais imaginara que suas filhas faziam parte do coven. Aliás, ele nem imaginava.
No outro dia Bele fora avisar para as mulheres que moravam na fazenda lua de sangue o perigo que corriam. Se houvesse outro lugar para celebrarem era melhor.
Elas eram filhas de um fazendeiro muito rico, mas que não pertencia a esse mundo. Afonso Peres morrera ao cair de um cavalo bravo. A viúva fazendeira arcava os negócios com suas quatro filhas.
O mundo delas era mágico, mas um erro estúpido poderia ser fatal. O aviso foi deixado e com muito desgosto. Seu pai não poderia sair de suas terras e sondar o que elas estavam fazendo.
As noites sempre foram muito escuras, mas com a lua cheia era fácil cavalgar entre as plantações. E seu pai estava sondando-as há muito tempo. Disso elas tinham certeza.
Na noite seguinte continuava a lua cheia e a mais forte do ano talvez. A lua do meio de verão acostumava ser a mais iluminada e elas com certeza não iriam deixar se atemorizar pelo aviso.
As duas filhas de Tobias não estavam naquele dia justamente por suas dúvidas. Mas, aquela noite era tão especial que forjaram uma saída no meio do anoitecer.
Foram para outro esbá.
As horas passaram como o vento do leste e o fogo queimava todos os seus medos. Dançavam sem parar por horas. Até que um som muito forte e estridente fez pararem.
Sine estava caída no chão com uma bala que atravessara sua barriga. Do lado direito. O sangue escorria e aí pareceu que o tempo parou, a morte tinha chegado e pra ela tudo passava rápido demais. Porque a morte aproximava e tirava dela o espírito de vida.
A alegria de tudo se transformou numa única tristeza e parecia que o atirador tinha se mandado. Naquela distância na mira de sua arma apenas se via corpos e não os rostos de suas vítimas.
Bele já tinha verificado antes. Tudo que seu pai via era imagens de mulheres nuas. Certamente ele não sabia em quem atirou.
Logo um capataz da fazenda pegou a jovem e colocou na caminhonete e levou.
De manhã estava apenas Bele tomando o café com lágrimas nos olhos, depois de ficar quase a noite toda fora.
Seu pai perguntou por Sine e ela o acompanhou com os olhos tristonhos.
— Pai ela está no hospital com o tiro que levou.
Surpreendentemente levantou-se assustado juntamente com sua mãe.
— Como?
— Sim. Ela está em lipotimia no hospital central.
Tobias era um homem valente, mas naquele momento se tornou um homem fraco e tolo.
Abaixou ajoelhado no chão com as mãos sobre seu rosto e lamentava por tudo.
Ele jamais poderia imaginar que os deuses estavam sempre em favor delas.
Ele pegou o carro e seguiu para o hospital que Bele tinha dito. E viu com seus próprios olhos tamanho erro que tinha cometido. – Como meu Deus eu poderia imaginar que ela fazia parte daquilo?
Sua filha não tinha vida pelo menos não naturalmente. Ele se sentiu forçado a pedir desculpas aquelas mulheres. E foi. Deixando Sine quase morta.
Tobias nunca dava braço a torcer, mas sentiu que por sua filha teria cometido o mesmo erro com as outras.
Elas estavam todas de branco quando chegou e ele não entendera. Pensava que poderiam estar de preto já que uma delas estava quase morta.
A senhora Peres saiu e pediu para suas filhas se ausentarem.
— O senhor é Tobias?
— Sim. Eu quero pedir desculpas.
— Desculpas aceitas, mas não é para mim que deve pedir desculpas e sim as suas filhas.
— Sine vai morrer. Jamais poderei fazer isso.
— Ela não vai morrer.
— Como sabe?
— Apenas sei. Em treze luas ela estará bem novamente.
Tobias saiu andando e olhando pra ela devidamente assustado como em sua casa de manhã no momento do café.
À volta pra casa pareceu tranquilo e aquele sofrimento de ver sua filha quase morta tinha desaparecido.
Entrou e tomou um cálice de cachaça, sentou e pensou por horas no acontecido.
O tempo realmente passou e sua filha estava de volta.
Ele as presenteou com dois vestidos brancos.
— Isto é para vocês.
Cada uma pegou seu vestido com lindos bordados, porém, brancos.
— Pai por que isso agora?
— Eu quero que vocês sejam livres como os pássaros daquela fazenda. Que Deus permita o melhor pra todas e que façam o que tenham que fazer.
As duas vestiram os glamorosos vestidos brancos e seu pai as levou para aquela fazenda. Sua arma estava à espreita, mas jamais cometeria outro erro.
Tobias não se tornara parte do coven, mas suas filhas se tornaram belas feiticeiras. Onde suas habilidades foram em conhecer as ervas e ajudarem nas colheitas.
Bele e Sine se tornaram as mais jovens na área do herbalismo e ajudavam todas as pessoas das redondezas com medicamentos caseiros.
Tobias entendeu que com os deuses não se brinca e que suas crenças não impede suas operações. A fé é tudo o que um Deus pede seja ele dentro ou fora de você. Porque Ele está em todas as coisas.
Porque todos nós somos deuses.