Efuturo: O Feiticeiro - Raiz Mágica/ Coleção Contos

O Feiticeiro - Raiz Mágica/ Coleção Contos

Terça-feira.
Três horas da madrugada, horário de Marte.

A caixa continha um segredo. Dourada como ouro, sigilos e gravuras astronômicas, estrelas e triângulos. Dentro, um tecido vermelho sangue que embrulhava uma raiz de cheiro forte. A forma era intrigante como a figura de um homem. Cabeça, pernas e braços, a raiz parecia ter vida e um som parecido com um gemido saiu de sua boca desenhada como uma espécie de bolota, os braços se alongavam espreguiçando.
Fora de sua seda vermelha parecia querer respirar e ser novamente banhado em sua areia quente, onde as primícias de sua origem pedissem como um vício inevitável.
O primeiro banho fora há três meses quando o próprio feiticeiro, Joaluz deu lhe a chance de empresta-lo um espírito para ser seu familiar. Com a vida em seu corpo estranho cuidava-o com todo o carinho do mundo. E deu lhe o nome de Além.
A raiz lhe proporcionava experiências sobre humanas, o velho senhor só queria ter acesso aos arquivos akashicos, onde ele jamais alcançaria em sua vida inteira de feiticeiro.
Os arquivos akashicos abertos ao longo de sua vida poderia fortalecer seu espírito familiar, porém, a dose que alimentava sua raiz para se aprisionar em Além poderia transforma-lo para sempre.
Com longas horas, sedado e preso no mundo de Além via com clareza os infinitos registros que ainda continuavam selados. E que em algum momento ele com sua ambição abririam e leria. Sem saber devidamente do preço de cada um.
Joaluz um velho feiticeiro que ambicionava o mundo de seu homúnculo criava barreiras muito complexas, e ele não sabia que por onde ele entrava, sobre a senda de luz pudesse cega-lo em seu mundo.
Um dia fechado em seu espaço mágico abarrotado de livros, globos, velas, mapas e tantas outras coisas, estava olhando fixo para Além. Iria dar mais uma viagem antes de nunca mais passar pelas barreiras do tempo. Iria aprisiona-lo mais uma única vez.
Além, era seu ser devotado, ele era seu senhor. E todas as precauções teria que tomar.
Aquele dia depois do pôr do sol. Joaluz entrou em seu estúdio e puxou a caixa. Abriu e tirou a seda vermelha. Logo, se ouvia os gemidos de Além.
Uma voz martelava em sua mente. – Não vá. Mas, ele condenado por sua cobiça em desvendar os mistérios dos registros. Em especial, um. O que relatava a infinidade sobre as artes da cura. Talvez, a ida poderia proporciona-lo um bom conhecimento herbário e ele se curaria de todos os seus problemas.
Feriu-se com a raiz deixando a toxina passar pelo seu sangue. E adormeceu imediatamente.
O sono lhe mandou novamente há um caminho estreito de luz, uma senda de ida sem volta. E ele continuou caminhando até onde seus pés levaram. Chegou numa fonte na qual devesse ser saciado, mas ao invés de água continha sangue. Seu ser criado por um espírito familiar passou a tomar conta dele. E ele achava que era quem estava no controle. O velho feiticeiro estava sendo guiado por Além. E cada vez que desejava conhecimento, se feria dando para ele um pouco de sua mortalidade. Tudo que Além desejava para ser parte do plano físico. Ele só precisava de um pouco de forças para se conectar com as paredes que o cercava.
O mundo do velho senhor se deixou levar, mais adiante de sua capacidade humana, a ambição. Sua raiz era para ser parte de sua vida trazendo formas de comandar e não o que ele buscou.
Por caminhos que não conhecia via seus passos se afundarem, cada vez mais no lamaçal. Num enorme charque de lama viu seu rosto se cobrir e de lá gritava para Além vir. Ele veio e o levou. Seu espírito fora aprisionado em Além e tudo que ele aprendeu continuava nos arquivos celestiais.
Certo tempo depois. Quando Joaluz faria sete dias que fora enterrado. Viu uma pequena luz brilhando e caminhou para aproximar. Era uma vela na mão de uma jovem. Sua bisneta. A jovem possuía uma forma de se conectar com os mortos através dos estudos da necromancia. E se pôs a chama-lo. Estava sentada numa mesa redonda com uma caneta e um papel em branco.
E uma voz feminina suave dizia. – Pode me ouvir?
Neste momento a escrita automática respondia com uma força estranha em sua mão. E a palavra era sim.
A raiz estava descoberta em sua mesa e a seda permanecia na caixa.
— Onde você está?
— Estou no mundo das sombras.
A resposta fora ríspida e rude com letras fortes e contornos fundos.
— Você encontrou o que buscava?
— Sim.
Os rabiscos tirara o papel da mesa.
— Então prova o que encontrou.
E tudo pareceu silenciar. Por momentos extensos. Até que Joaluz resolvera fazer contato.
O corpo de Selene estava duro e ela não ouvia nem falava. Permaneceu assim durante toda a noite. E quando finalmente o ponteiro do relógio bateu as sete. Ela fora subitamente acordada. Como quem acorda num grito.
Ela dizia muitas coisas e todas as palavras pareciam sair tropeçando.
Selene tinha aberto o portal para se conectar com seu bisavô. Usando a raiz mágica. Ela tinha lhe entregado a própria chave que abriria os segredos de sua alma. Naquela noite ela entregou seu corpo para que aquele espírito reinasse. O velho mago seguiu pelo caminho escuro e tinha conseguido uma casca para se moldar.
Daquele dia em diante a vida de Selene fora buscar os mesmos atributos que o velho senhor buscava. E envelheceu fazendo isso.
Até que a raiz tinha se modificado. Mas, Selene nem percebeu.
Das raízes formaram folhas e das folhas frutos. Um fruto venenoso e tóxico. Onde guardava os segredos do espírito na matéria. As cinco sementes sagradas.
Selene comeu o fruto e todo o resto foi modificado.
Percebeu que cometera um erro estúpido, mas tudo já havia consumado.
As sementes dos frutos tinham gerado uma alavanca em todos os sentidos de sua vida. E então percebera que ela não só tinha aberto um portal naquela noite, mas que fora o próprio canal por onde a sua descendência pudesse ser perpetuada.
Sua origem e evolução. Das primícias ao progresso. Tudo parecia ser um longo caminho. Mas, o tempo só fora à história deixada em partes para concluir sua missão.
O velho senhor sabia que para cria-lo devia morrer e assim o ato de sacrifício o salvou.