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CULTURA DE ÔNIBUS

Ou como ler e escrever durante
as viagens se transformou num vício

Ao longo dos anos, desenvolvi o hábito de ler e escrever durante as viagens de ônibus e, confesso, esse é hoje um dos motivos que me demovem da idéia de aprender a dirigir. É muito mais tranqüilo ser passageiro – salvo no caso de assaltos, em que passageiros e motoristas se igualam na impossibilidade de reagir ... Há quem não consiga pregar os olhos em uma página com aquela inevitável trepidação do coletivo, e já ouvi que este hábito pode levar ao descolamento da retina. Nunca tive real interesse em saber se isso é uma verdade científica.
Fiz umas contas rápidas outro dia e cheguei à conclusão de que passei cerca de dois anos e meio da minha vida dentro de ônibus, viajando quilômetros e mais quilômetros, geralmente cruzando cidades. Morando aqui na desconhecida cidade de Tanguá – a meio caminho para a Região dos Lagos do Rio de Janeiro – já trabalhei em Niterói (60 Km) e agora trabalho em Araruama, praticamente a mesma distância. Nunca, desde os 11 anos de idade, trabalhei ou estudei a menos de 20 minutos de viagem da minha casa.
Nessas viagens, algumas relativamente longas, ficar olhando pela janela é uma diversão sem sentido. Depois de duas ou três passagens pelo mesmo caminho, já não há nada de novo para ver. Observar os outros passageiros pode provocar mal-entendidos do tipo “tá olhando o que aí, ô cara”!. Por isso, logo cedo resolvi dedicar esses momentos a adquirir cultura – a minha “cultura de ônibus”, que é parte fundamental do que eu sei.
Na infância e adolescência, sempre revisa a matéria para as provas durante as viagens – principalmente física e química. Até hoje não sei nada dessas matérias, mas, talvez pelo estudo nos velhos ônibus da Viação Pendotiba, passei sem maiores traumas pelo meu 2º Grau. Depois dos 15 anos, comecei a escrever nas viagens – geralmente poesia.
Muitos dos meus poemas nasceram nas viagens de ônibus, geralmente prontos. Não gosto muito de ficar revisando os versos, buscando a perfeição. Isso, quase sempre, mata a espontaneidade, aquele brilho inicial da idéia levada ao papel. No curto tempo em que existiu, a linha de ônibus ligando meu bairro ao centro de Tanguá proporcionou o nascimento de um livro de sonetos e a conclusão de três peças de teatro. O itinerário, por uma estrada de terra na zona rural do município, era também uma inspiração.
Agora, trabalhando em Araruama, passo cerca de duas horas do meu dia dentro dos ônibus da Viação 1001. Estou aproveitando para ler muito e sempre. Agora, depois de quase 20 anos do filme, estou lendo “A última tentação de Cristo”, de Nikos Kazantzakis. Nos últimos dez meses, desde que comecei a viajar neste caminho, já li coisas como o quinto e o sexto livros de Duna, os Sonnets de Shakespeare, uma coletânea de poemas de Lord Byron, o “Triunfo da Vida”, de Shelley, entre outros.
Até mesmo no dia, recente, em que passei pela insuportável experiência de um assalto a mão armada no ônibus, eu estava lendo – e até demorei para perceber o que estava acontecendo. Quando saí da ficção e percebi a realidade, juro que pensei em voltar para o livro até a gritaria do mundo à minha volta passar. Como seria bom voltar para o mundo dos sonhos e não sentir tão de perto a violência urbana ...
Acho que o tempo vai levar essa experiência amarga para aquele canto do cérebro onde ficam os episódios que devem ser esquecidos - bem no fundo, bem distante ... E o que vai ficar da minha relação pouco ortodoxa com o transporte coletivo será essa “cultura de ônibus” e, quem sabe, algum problema de vista.


(Direitos reservados ao autor - Publicado pela primeira vez em 27/02/2005 no blog do autor, e em 18/09/2006 no site www.williammendonca.com. Integrante do livro "Realidade nua e crua", disponível para download gratuito no mesmo site.)

 
   
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