Efuturo: Cartas ao Leitor I (R37)

Cartas ao Leitor I (R37)

A mentira briga com a verdade, estraçalha o íntimo, amordaça tudo o que há de bom dentro de si. Sinto o esvair da vida, o coração pulsar rapidamente, a fornalha da imbecilidade me tomar o corpo. Não sei se quero ou se não quero, a vida é a dúvida em pessoa, ela nos põe em provas de fogo, nos testa a todo momento, a cada passagem. Mudar, já nem sei o que é isto, será que não consigo ou eu não quero? Não sei, sei lá, acho que são essas palavras as mais difíceis de serem entendidas, como eu disse elas são as palavras da dúvida.
Meu espírito está revolto, ele briga não sei com o que, maldita palavra, põe minha cabeça a arquitetar pensamentos mesquinhos, a estragar a aura que está em torno de mim. Será, outra dúvida, eu não sei mas acho que vivo da dúvida, do puro negativismo e não é isso que o Espiritismo segundo Kardec nos ensina, nem sei o que seguir e no que acreditar, ah, mas em Deus eu acredito, ufa, pelo menos em alguma coisa eu tenho certeza . Mas como ia dizendo antes de cortar o pensamento com observações e colóquios flácidos, será que meu anjo da guarda me abandonou? Se isto aconteceu, o que não duvido nada, eu não ficaria espantado, afinal quem aguentaria um cara como eu, nem eu me aguento, vai cuidar da sua vida, às vezes falo a mim mesmo, só para ver se eu me toco, mas não adianta. Talvez quem me lê ou quem me vê, é, talvez alguém possa ter me visto e pensado: "foi ele quem escreveu, só pode ter sido"; voltando ao talvez quem me lê ou vê, não vamos tornar isso um círculo vicioso, não vai entender o que me levou a escrever, mas eu posso até explicar; talvez por um desabafo, ou talvez por simples mania e vontade, ou talvez quem sabe porque não tinha outra coisa melhor para fazer além de gastar uma folha de papel e a tinta de uma caneta. Eu disse uma folha? Posso me corrigir, se for um romance talvez várias folhas, pode rir, se for apenas uma carta esta folha bastaria ou não e se for um conto em quatro folhas eu falo tudo o que tenho para falar. Não sou claro nas coisas que escrevo ou falo, a dúvida está sempre presente.


Alexandre Brussolo